sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013


DE REPENTE, ENVELHECI...



De repente, me deparei com uma triste realidade: ENVELHECI...
O viso e o vigor de outrora se esvaneceu...
Os cabelos – que já foram longos a altura dos ombros, também já foram arrepiados, já ostentaram o corte moicano, o corte militar, já foram brancos, amarelos, etc... – me abandonaram em quase sua totalidade, deixando minha cabeça adornada apenas por uma incômoda coroa...
Os músculos, antes vigorosos, agora se tornam doloridos com mais e mais facilidade...
A beleza – se é que se podia chamar de beleza – que tinha em meu rosto, sempre alegre e com um sorriso estampado, também me abandonou...
A disposição... o estar pronto para qualquer coisa a qualquer hora já começa a ser substituída pelos planejamentos e de perguntas sobre os “por quês”, sobre a necessidade de se fazer determinada tarefa ou não...
Já não desperto os mesmos olhares por onde passo... já não chamo mais a atenção pelo aspecto físico...
Enfim, ENVELHECI...
Em razão disso – e de diversas outras coisas que vivenciei  – , em que pese tudo o que foi vivido, me sinto como algo descartável... Algo que, após esgotado seu uso, não merece destino outro senão o lixo... o esquecimento... a apatia... o desprezo...
Percebi que, nos últimos meses, envelheci vários anos!!!
E é nestas horas que me emociono... desmorono... a garganta e o coração ficam apertados e meus olhos se enchem de lágrimas... Por vezes, chego a me sentir, de fato, como lixo...
Mas, também de repente, percebo que nem tudo no envelhecimento é ruim...
Junto com ele – o envelhecimento –  vem o aprendizado da vida, a experiência, o pensar antes de agir ou de falar, o amadurecimento, o medir a extensão e a consequência de cada ato práticado...
Percebo que esse atributos que seguem atrelados ao envelhecimento me proporcionam alguns outros prazeres que antes não sentia...
Sinto que, somente por ter envelhecido, é que fui capaz de amealhar em minha vida poucos, mas grandes, amigos...  amigos reais, daqueles com os quais você pode contar para qualquer situação... amigos virtuais também... estes, embora distantes fisicamente, sempre encontram um tempo para vir deixar uma palavra... um carinho... um agrado... Afinal, a amizade é um amor que nunca morre.
Somente por ter envelhecido é que pude presenciar o nascimento, o crescimento, o desenvolvimento de meu maior tesouro... minha pequena pérola...
Somente por ter envelhecido é que pude desenvolver minha mente – já que o corpo se recusava a realizar algumas tarefas – ganhando experiência, boas ou más, a cada dia em que permaneço vivo...
Somente por ter envelhecido é que fui capaz de amar... de desenvolver em mim várias formas de amor... o amor carnal... o amor sentimental... o amor intelectual... enfim, o amor...
Só porque envelheci é que pude ver germinar e prosperar pequenas sementes plantadas há muito tempo... pude ver que pequenos arbustos se tornaram árvores frondosas... onde espero, quando envelhecer ainda mais, deitar-me sob sua sombra para repousar...
Por ter envelhecido é que aprendi que não posso, não quero, não devo e não vou me render... não vou me entregar ao primeiro problema... ao primeiro sinal de perigo... SOU UM GUERREIRO!!!  E como tal sigo minha vida... ostentando minhas cicatrizes e envelhecendo um dia por dia... um minuto a cada minuto...
Somente por ter envelhecido é que percebi que o pior tipo de envelhecimento não é o do corpo, mas o sim o da alma, o do espírito... Quantos jovens velhos existem por aí? Pessoas que, apesar de contar com poucos anos de vida, possuem o espírito envelhecido... negando-se a vivenciar novas experiências, circunscrevendo sua vida aos limites impostos por sua visão tacanha e vesga do mundo...
Aqui, sentado em frente ao meu velho computador...  ouvindo um pouco de jazz, acompanhado apenas de minha solidão, do vazio de minha casa  e de um copo de vodka, lembro-me de uma frase de Mário Quintana: “...Com o tempo, você vai percebendo que, para ser feliz, você precisa aprender a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você...”. Com o tempo, não vamos ficando sozinhos apenas pelos que se foram, vamos ficando sozinhos uns dos outros.
Percebo, então, que se de nada mis adiantou envelhecer, já valeu a pena pela lição... aprendi a gostar mais de mim... aprendi a somente gostar daqueles que realmente gostam de mim... aprendi que ainda guardo em mim todos os sonhos do mundo...
Se sou velho? Não sei, talvez... Às vezes, o passado não reconhece seu lugar e está sempre presente... Bendito quem inventou o belo truque do calendário, pois o bom da segunda-feira, do dia 1º do mês e de cada ano novo é que nos dão a impressão de que a vida não continua, mas apenas recomeça...

                    Se sou velho? Não sei... Tudo que sei é que ainda guardo em meu peito um amor tão grande e que a minha voz nascerá de novo, talvez noutro tempo sem dores, e nas alturas arderá de novo o meu coração ardente e estrelado...



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