quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O DIA EM QUE ME MATEI...


Algumas poucas pessoas sabem que há pouco tempo tentei me matar. Coloquei uma arma em minha boca e, por três vezes, disparei. A merda da bala não fez a única coisa que ela deveria fazer... disparar...

No entanto, essas pouquíssimas pessoas que sabem o que tentei não sabem o porque tentei. Vou tentar resumir o que se passou em minha cabeça sem expor muito as pessoas envolvidas.

Por motivos que prefiro não revelar, contratei uma pessoa  para que ele "apagasse" uma pessoa para mim. As únicas exigências que fiz foram que a "vítima" estivesse sozinha e que ele (o contratado) me ligasse antes de "executar o serviço" para que eu desse o meu ok. Não queria saber quando, nem onde, nem como... Não precisava saber de mais nada. Por dias esperei o telefonema. Mas conhecia o contratado e sabia o quanto ele é cuidadoso para executar seus "serviços".

Assim fez o contratado. Num dia, quando menos esperava, toca meu celular. Atendo e o contratado me diz que o "serviço" estava prontinho para ser feito. Bastava que eu desse a ordem e a vítima estaria no outro mundo. Foi a pior ligação, ou uma das piores, que já recebi em minha vida... 

Por um lado, sentia o poder em minhas mãos... bastaria que eu disse uma única palavra e uma vida -- a vida de uma pessoa que muito me fizera sofrer -- teria fim. Era como se naquele momento eu fosse deus -- o mesmo que adora brincar com seus marionetes --. Era o poder da vida e da morte em minhas mãos... Senti que, naquele momento, iria matar todas aquelas lembranças de tudo o que li e que sabia ter acontecido...

Por outro lado -- e ao contrário do que fez a vítima -- pensei na família dele... Disse isso a ele na última vez que nos falamos pessoalmente... Pior que isso, pensei em como poderia seguir vivendo com o fato de ter, ainda que indiretamente, ainda que sem puxar o gatilho, tirado a vida de alguém... Aqueles segundos que se seguiram pareceram anos... Pensei que aquilo ia contra todos os princípios que, desde a infância, me fora explanado como sendo o certo.

Inventei alguma coisa e mandei que o contratado abortasse a "missão", o que ele fez muito contrariado (bem sei que ele gosta do que faz). Voltei para casa. Aquela ligação não me saía da cabeça... Como pude chegar até aquele ponto? Tive de desobrigar o contratado por mais duas vezes, em dois outros dias, até que ele se convencesse de que realmente não queria mais os seus serviços...

Cheguei em casa e aquilo fervilhava em minha mente. Me achava um lixo. Uma mistura de ódio, raiva, amor e covardia me martirizava. Naquele tempo ainda cria em deus... meus sentimentos eram absolutamente contraditórios e confusos...

Incapaz de pensar claramente, acreditei que a única coisa que poderia fazer para silenciar aquele turbilhão de pensamentos era pondo fim à minha vida. Procurei uma porcaria de arma que tenho -- a única que me sobrou desde a última vez que pretendi usar umas das muitas que já tive -- a minha primeira. Depois de revistar por todos os cantos a encontrei. Uma velha garrucha de dois canos. Municiei com a munição que tinha... me sentei no chão do banheiro, engatilhei os dois canos, coloquei em minha boca -- sabia que, em razão do pequeno calibre, seria o único lugar onde poderia atirar para causar morte instantânea -- sem relutar puxei o gatilho... nada aconteceu. Assim fiz por mais duas vezes... Porra!!! Nem me matar eu conseguí!!! Não por falta de coragem, mas porque a merda da bala não fez a única coisa para a qual foi projetada...

Quando a terceira tentativa foi frustrada, outras coisas começaram a vir em minha mente. Mas uma delas me trouxe de volta à realidade... minha filha. Quais as consequências aquele meu ato poderiam causar a ela? Como pude ser tão egoísta ao ponto de querer tirar a minha vida esquecendo a de minha filha.

Naquele dia eu me matei, muito embora a bala não tenha saído do cano. Não física, mas espiritualmente.  Não por falta de coragem em executar minha vontade. Não sem sofrer. Matei tudo aquilo em que sempre acreditei. Matei minha alegria, pois desde aquele dia não consigo mais sorrir.  Matei minha alma e meus princípios

Um comentário:

  1. Você era uma pessoa maravilhosa e, do nada, se fez selvagem. Cuide-se, não por ti, nem por mim, e menos ainda por nós, mas pela tua filha.

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