quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A IDADE DO LOBO OU A IDADE DAS MIGALHAS?



"A sabedoria do homem prudente é discernir o caminho, mas a insensatez dos tolos é enganosa" (Provérbios 14:8)



"Após os 40 Anos de idade, o homem passa a caminhar pelo desconhecido mundo da meia idade. É a maior transição enfrentada por ele. Para alguns é o deslocamento de águas plácidas e serenas, para um oceano revolto e agitado. A travessia é turbulenta e difícil."


Assim começa um artigo destes que são encontrados aos montes na internet. Sempre acreditei que esta conversa de "idade do lobo" ou de "idade da loba" não passasse de mera forma que alguns psicólogos e psicanalistas tinham encontrado para vender livros e ganhar dinheiro. 


Pelo que tenho vivido nos últimos tempos posso dizer, sem a menor sombra de dúvidas, que estava completamente enganado...


De fato. Seja por interferência minha ou não, por ações ou omissões minhas ou não,  por culpa minha ou não -- até porque este não é o caso nem o momento de atribuir culpas --, posso garantir que agora, com meus 42 anos de idade, estou passando pela maior transição que já enfrentei em minha vida. Nunca imaginei que, a esta altura de minha vida, pudesse vir a enfrentar este "oceano revolto e agitado". E como ele é cruel!


Segundo o mesmo artigo, quando o homem atinge a "idade do lobo" o homem  "...avalia seus sonhos, alvos e projetos e fica satisfeito ou frustrado; é quando ele passa a questionar tudo, inclusive a vida..."


Pois é. Nos últimos tempos avaliei meus sonhos, meus projetos e meus alvos e o que posso dizer é que estou absolutamente frustrado comigo. Nada - ou quase nada - do que sonhei em minha vida se concretizou. Meus alvos não foram atingidos e meus projetos, nem de longe, consegui por em prática.


Tenho vivido de migalhas que me são deixadas. Em todos os aspectos de minha vida. Tenho vivido de migalhas...


Sem falsa modéstia, sou um profissional competente, respeitado em minha área de atuação, conhecido e reconhecido pelos colegas de profissão. E o que tenho por ser um profissional assim? Migalhas...


 Jamais saí como um lobo voraz, a caça de presas. Nunca precisei disso. Acreditava que tinha tudo o que queria. Não que não tivesse ambições. Seria medíocre se disse isso. Mas acredito que esta busca voraz não passaria de uma aspirina, um alívio temporário a conflitos muito mais sérios cujas soluções devem, estas sim, serem buscadas vorazmente. Falhei... Falhei por acreditar que estas soluções seriam apresentadas pelo tempo.


Alguém descreveu a crise da meia-idade do homem como a época em que este se depara com quatro inimigos: o corpo (o passar dos anos começa a pesar), o trabalho (está realizado em relação a ele ou não?), a família (as muitas e diversas pressões que ela lhe impõe), Deus (ele é o culpado de todos os seus problemas). Enfim, quando ele reavalia seu valor pessoal, quando há alvos e sonhos não alcançados; quando a rotina e a monotonia massacram, a aventura ou uma nova forma de realização estão do outro lado da porta de sua casa, convidando-o. Quando a esposa e os filhos já não dependem tanto dele; quando ele inicia uma batalha para que sua aparência física ainda desperte admiração e desejo do sexo oposto; quando "cai a ficha" de que ele não viverá para sempre - o chão lhe foge dos pés e o homem entra em crise.


Acredito que a foto que coloquei neste post espelha o que estou sentido agora: me sinto  imerso em um frio implacável, uivando com os olhos fechados para uma lua que está muito, muito distante do meu alcance. Deixei tanto o tempo passar para ver se as soluções aos problemas se apresentavam que não percebi que minha lua se distanciava mais e mais de mim. Como pude ser tão cego e não perceber o que estava acontecendo? Como pude não ver que minhas omissões estavam a afastando de mim a cada dia que passava?


E agora? Será possível que minha lua ainda volte a se aproximar de mim? Tenho visto seu esforço, sua determinação em buscar essa reaproximação. Mas a gravidade pode ser mais forte que a vontade e pode afastá-la mais e mais.

Minha lua é -- sempre foi, e continua sendo -- bela.  Ela sempre despertou a atração de outros lobos. E agora, ela própria, como incansavelmente tem afirmado, está na idade da loba. Alcançou a idade em que está pouco se importando com os outros, com o que eles pensam ou dizem, ou como ela própria escreveu, que seu nariz é sua guia.


Não posso deixar de pensar em outras coisas que minha lua tem escrito. Que está no auge de sua sexualidade, que atualmente busca não só quantidade, mas também qualidade. Tudo o que sei é que não temos tido nenhum dos dois...


Sempre fui profundamente ansioso. E esta ansiedade, com a certeza de que minha vida é finita e corre para o final só tem aumentado. Temo que o tempo, ao revés de curar as feridas, somente venha a infeccioná-las como já aconteceu no passado, quando chegamos quase ao ponto de termos de buscar a amputação de um amor que estava -- e não sei se ainda está -- infeccionado.


E quando digo que não sei é por um único motivo. Talvez por ter convivido por tanto tempo comigo, ela se fechou. Não fala sobre seus sentimentos, sobre o que realmente quer fazer. O que vejo é o que consigo entender nas entrelinhas do que ela escreve.


Por outro lado, temo que ao buscar soluções rápidas, até as consiga encontrar. No entanto, a experiência que já acumulei me mostra que as soluções rápidas nunca são as corretas e duradouras.


Atualmente, me vejo como o "lobo mau". Aquele da fábula infantil. Sempre achando que vai comer a chapeuzinho, e termina não comendo nem a vovozinha, já que é morto pelo caçador. Atualmente sei que sou um espectro, um fantasma do que fui e do que sempre sonhei ser.


Tudo o que sei é que, atualmente, vivo de migalhas...


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